Resenha Crítica do Livro De Monarchia de Dante Alighieri
- S. Exª. Dom Davi Samuel Graf von Valukas Lopes
- 6 de out. de 2024
- 5 min de leitura

De Monarchia é uma obra escrita por Dante Alighieri por volta de 1312-1313, um tratado político e filosófico que reflete sobre a relação entre poder temporal e poder espiritual, ou seja, entre o imperador e o papa.
A obra é composta por três livros, nos quais Dante defende a separação e a autonomia do poder secular em relação ao eclesiástico, oferecendo uma visão de uma monarquia universal que seria necessária para garantir a paz e a justiça no mundo.
Livro I: A Necessidade da Monarquia Universal
No primeiro livro, Dante apresenta sua tese central: a monarquia universal é a única forma de governo capaz de garantir a paz e a harmonia entre os povos. Ele sustenta que a humanidade precisa de um governante supremo que detenha autoridade sobre todos os reinos e nações, a fim de impedir conflitos entre eles.
Para ele, a paz universal é o estado mais desejável para a humanidade, pois só através dela os seres humanos podem se dedicar à sua verdadeira missão, que é o desenvolvimento intelectual e espiritual.
Dante defende que uma monarquia global evitaria disputas internas e internacionais, permitindo que os indivíduos se concentrem em seus próprios objetivos de vida. Ele argumenta que a pluralidade de governantes causa discordância e guerra, enquanto um único soberano garantiria a ordem.
Nesta parte, Dante utiliza um raciocínio lógico e filosófico, buscando influências da filosofia aristotélica, especialmente na ideia de que a finalidade da humanidade é a realização do bem comum, e isso só pode ser atingido com uma autoridade singular que transcenda fronteiras.
Livro II: A Autoridade do Imperador
No segundo livro, Dante explora a origem e a legitimidade do poder imperial. Ele argumenta que o imperador recebe sua autoridade diretamente de Deus, não do papa ou da Igreja. Para Dante, o imperador tem o papel de garantir a justiça e a paz terrena, enquanto o papa deve cuidar da salvação das almas.
Assim, a autoridade secular e a espiritual têm esferas de influência separadas e complementares, e uma não deve interferir na outra.
Além disso, ele apresenta a tese de que o Império Romano foi instituído de acordo com a vontade divina, o que justifica a autoridade do Sacro Império Romano-Germânico em sua época. Dante usa exemplos históricos, como o julgamento de Cristo por Pôncio Pilatos, para mostrar que o Império Romano foi parte de um plano divino. Além disso, ele refuta a ideia de que o papa poderia investir imperadores, afirmando que o poder temporal não depende do espiritual.
Livro III: A Relação Entre o Papa e o Imperador
O terceiro e último livro é o mais polêmico, onde Dante aborda diretamente a relação entre o papa e o imperador, defendendo a tese de que os dois poderes devem ser independentes. Ele argumenta que ambos são ordenados por Deus, mas com finalidades distintas: o papa cuida do bem-estar espiritual da humanidade, enquanto o imperador é responsável pelo bem-estar temporal.
Dante discorda do conceito medieval de que o papa detém uma autoridade superior, inclusive sobre os governantes seculares. Ele apresenta uma interpretação teológica e filosófica, sugerindo que o poder do papa não se estende às questões políticas e territoriais, e que a autoridade do imperador é dada por Deus diretamente, sem mediação da Igreja.
Para sustentar sua tese, Dante faz uso de uma leitura cuidadosa das Escrituras e de autores da Antiguidade, como Aristóteles e Tomás de Aquino, procurando fundamentar sua visão em bases filosóficas e religiosas.
Análise Crítica
A relevância de De Monarchia está em seu corajoso apelo pela separação entre Igreja e Estado em uma época em que o papado tinha uma influência política significativa sobre os reinos da Europa. Dante, ao propor uma monarquia universal, talvez idealizasse uma forma de governo impraticável em termos históricos, mas a obra abre espaço para reflexões profundas sobre o equilíbrio de poderes e a necessidade de estruturas políticas que não dependam exclusivamente de uma autoridade espiritual.
Seu argumento de que o poder secular deve ter autonomia frente à Igreja traz uma crítica velada ao controle político do papado e à corrupção que Dante percebia no clero de sua época. A obra carrega a marca de um intelectual que busca, com base em textos clássicos e teológicos, reimaginar as bases do poder e da justiça na sociedade medieval.
Contudo, sua visão de uma monarquia universal, idealizada e unificadora, parece distanciar-se das realidades políticas e sociais da Europa medieval, caracterizada pela fragmentação e pelas guerras entre diferentes reinos. Embora seu ideal de paz e ordem tenha um apelo filosófico, sua proposta prática encontra dificuldades em face das complexidades do poder político.
A argumentação, embora sofisticada, não considera suficientemente a diversidade cultural e política que já existia na época e que poderia impossibilitar uma monarquia universal.
Dante também se vale da autoridade de autores clássicos e religiosos para justificar suas teses, mas há momentos em que ele parece usar essas fontes de forma seletiva, especialmente ao sustentar a superioridade do Império Romano e do imperador como figuras centrais na história da humanidade.
Conclusão
De Monarchia é uma obra significativa que levanta questões fundamentais sobre a relação entre poder temporal e espiritual, questões que ressoam até os dias de hoje. Apesar de seus aspectos utópicos, a visão de Dante sobre um governante global justo e pacífico revela seu desejo por uma ordem política capaz de eliminar a guerra e a injustiça.
Em suma, ao propor uma clara distinção entre os poderes seculares e espirituais, Dante pavimenta o caminho para debates futuros sobre governança, autoridade e a busca pela paz na sociedade humana.
Autor:
Davi Samuel Valukas Lopes (Nana Kofi Adom) | Doses de Cavalheirismo
Acesse:
Comendador da Ordem do Mérito Cultural Carlos Gomes
Comendador das Letras da Ordem do Mérito Histórico-Literário Castro Alves
Comendador de Artes e Ofícios da Comenda Tropeira Paulista
Amamerehene (guardião cultural) de Ashanti Akyem Hwidiem (Gana)
Ow’Isaza (representante nacional) do Reino Bunyoro Kitara (Uganda) no Brasil
Embaixador da Sociedade Fraternal do Leão Escarlate (México) no Brasil
Embaixador da SCOAAKAR (Supremo Conselho dos Reis e da Realeza Ancestral Africana - Nigéria) no Brasil
Conselheiro da Cruz Real - Renovação na Tradição (Itália) no Brasil (Delegação 18 de Julho)
Guerreiro Honorário da Ordem Humanitária da Realeza Africana, vinculada à GDAAL (Grande Delegação África - Alkebu Lan) da Croce Reale
Coronel do Kentucky pela Honorável Ordem dos Coronéis do Kentucky, maior honraria concedida pelo Estado do Kentucky (EUA)
Generalis Sextae Legionis pela Cesarea Ordem dos Cavaleiros Romanos
Ordens de Cavalaria em que adentrou via tratados de amizade quando era Chanceler da Ordem Real do Leopardo Dourado (2021-2023), de Gana: Comendador da Ordem de São Thiago da Espada do Congo, Grão-Cruz da Ordem Real do Tigre e da Águia (Sawereso-Seinuah, Gana), Grão-Cruz da Ordem Real do Mérito (Gbi Hohoe Ahado, Gana), Grão-Cruz da Ordem Real de Kwakyem Ababio (Papagya, Gana), Grão-Cruz da Ordem de Santa Catarina do Monte Sinai (Família Lusignan), Grão-Cordão da Ordem Real da Coroa de Mangkualaman (Indonésia), Cavaleiro Honorário da Real Fundação Platoni de Ilustres Condecorados do Chile, Duque do Principado da Soberana Ordem Espiritual-Cavalheiresca da Santa Cruz (Rússia), Grão-Cruz da Ordem Real e Militar de Jean-Baptiste do Haiti
Títulos nobiliários pró-memória: Barão da Rosa Branca pela Casa Ducal e Principesca de Bessières D’Istria, Barão de Valukas Lopes pela Casa Sereníssima de Avis (Ramo Cadete), Conde de Valukas Lopes pela Casa Ducal e Principesca de Mozer von Württenberg und Zahringer, Marquês de Zahringer pela Casa Ducal e Principesca de Hohenstaufen.