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Resenha Crítica do Livro De Monarchia de Dante Alighieri


De Monarchia é uma obra escrita por Dante Alighieri por volta de 1312-1313, um tratado político e filosófico que reflete sobre a relação entre poder temporal e poder espiritual, ou seja, entre o imperador e o papa.

A obra é composta por três livros, nos quais Dante defende a separação e a autonomia do poder secular em relação ao eclesiástico, oferecendo uma visão de uma monarquia universal que seria necessária para garantir a paz e a justiça no mundo.


Livro I: A Necessidade da Monarquia Universal

No primeiro livro, Dante apresenta sua tese central: a monarquia universal é a única forma de governo capaz de garantir a paz e a harmonia entre os povos. Ele sustenta que a humanidade precisa de um governante supremo que detenha autoridade sobre todos os reinos e nações, a fim de impedir conflitos entre eles.


Para ele, a paz universal é o estado mais desejável para a humanidade, pois só através dela os seres humanos podem se dedicar à sua verdadeira missão, que é o desenvolvimento intelectual e espiritual.


Dante defende que uma monarquia global evitaria disputas internas e internacionais, permitindo que os indivíduos se concentrem em seus próprios objetivos de vida. Ele argumenta que a pluralidade de governantes causa discordância e guerra, enquanto um único soberano garantiria a ordem.


Nesta parte, Dante utiliza um raciocínio lógico e filosófico, buscando influências da filosofia aristotélica, especialmente na ideia de que a finalidade da humanidade é a realização do bem comum, e isso só pode ser atingido com uma autoridade singular que transcenda fronteiras.


Livro II: A Autoridade do Imperador

No segundo livro, Dante explora a origem e a legitimidade do poder imperial. Ele argumenta que o imperador recebe sua autoridade diretamente de Deus, não do papa ou da Igreja. Para Dante, o imperador tem o papel de garantir a justiça e a paz terrena, enquanto o papa deve cuidar da salvação das almas.


Assim, a autoridade secular e a espiritual têm esferas de influência separadas e complementares, e uma não deve interferir na outra.


Além disso, ele apresenta a tese de que o Império Romano foi instituído de acordo com a vontade divina, o que justifica a autoridade do Sacro Império Romano-Germânico em sua época. Dante usa exemplos históricos, como o julgamento de Cristo por Pôncio Pilatos, para mostrar que o Império Romano foi parte de um plano divino. Além disso, ele refuta a ideia de que o papa poderia investir imperadores, afirmando que o poder temporal não depende do espiritual.


Livro III: A Relação Entre o Papa e o Imperador

O terceiro e último livro é o mais polêmico, onde Dante aborda diretamente a relação entre o papa e o imperador, defendendo a tese de que os dois poderes devem ser independentes. Ele argumenta que ambos são ordenados por Deus, mas com finalidades distintas: o papa cuida do bem-estar espiritual da humanidade, enquanto o imperador é responsável pelo bem-estar temporal.


Dante discorda do conceito medieval de que o papa detém uma autoridade superior, inclusive sobre os governantes seculares. Ele apresenta uma interpretação teológica e filosófica, sugerindo que o poder do papa não se estende às questões políticas e territoriais, e que a autoridade do imperador é dada por Deus diretamente, sem mediação da Igreja.

Para sustentar sua tese, Dante faz uso de uma leitura cuidadosa das Escrituras e de autores da Antiguidade, como Aristóteles e Tomás de Aquino, procurando fundamentar sua visão em bases filosóficas e religiosas.


Análise Crítica

A relevância de De Monarchia está em seu corajoso apelo pela separação entre Igreja e Estado em uma época em que o papado tinha uma influência política significativa sobre os reinos da Europa. Dante, ao propor uma monarquia universal, talvez idealizasse uma forma de governo impraticável em termos históricos, mas a obra abre espaço para reflexões profundas sobre o equilíbrio de poderes e a necessidade de estruturas políticas que não dependam exclusivamente de uma autoridade espiritual.


Seu argumento de que o poder secular deve ter autonomia frente à Igreja traz uma crítica velada ao controle político do papado e à corrupção que Dante percebia no clero de sua época. A obra carrega a marca de um intelectual que busca, com base em textos clássicos e teológicos, reimaginar as bases do poder e da justiça na sociedade medieval.


Contudo, sua visão de uma monarquia universal, idealizada e unificadora, parece distanciar-se das realidades políticas e sociais da Europa medieval, caracterizada pela fragmentação e pelas guerras entre diferentes reinos. Embora seu ideal de paz e ordem tenha um apelo filosófico, sua proposta prática encontra dificuldades em face das complexidades do poder político.


A argumentação, embora sofisticada, não considera suficientemente a diversidade cultural e política que já existia na época e que poderia impossibilitar uma monarquia universal.

Dante também se vale da autoridade de autores clássicos e religiosos para justificar suas teses, mas há momentos em que ele parece usar essas fontes de forma seletiva, especialmente ao sustentar a superioridade do Império Romano e do imperador como figuras centrais na história da humanidade.


Conclusão

De Monarchia é uma obra significativa que levanta questões fundamentais sobre a relação entre poder temporal e espiritual, questões que ressoam até os dias de hoje. Apesar de seus aspectos utópicos, a visão de Dante sobre um governante global justo e pacífico revela seu desejo por uma ordem política capaz de eliminar a guerra e a injustiça.

Em suma, ao propor uma clara distinção entre os poderes seculares e espirituais, Dante pavimenta o caminho para debates futuros sobre governança, autoridade e a busca pela paz na sociedade humana.


Autor:

Davi Samuel Valukas Lopes (Nana Kofi Adom) | Doses de Cavalheirismo

Acesse:


  • Comendador da Ordem do Mérito Cultural Carlos Gomes

  • Comendador das Letras da Ordem do Mérito Histórico-Literário Castro Alves

  • Comendador de Artes e Ofícios da Comenda Tropeira Paulista

  • Amamerehene (guardião cultural) de Ashanti Akyem Hwidiem (Gana)

  • Ow’Isaza (representante nacional) do Reino Bunyoro Kitara (Uganda) no Brasil

  • Embaixador da Sociedade Fraternal do Leão Escarlate (México) no Brasil

  • Embaixador da SCOAAKAR (Supremo Conselho dos Reis e da Realeza Ancestral Africana - Nigéria) no Brasil

  • Conselheiro da Cruz Real - Renovação na Tradição (Itália) no Brasil (Delegação 18 de Julho)

  • Guerreiro Honorário da Ordem Humanitária da Realeza Africana, vinculada à GDAAL (Grande Delegação África - Alkebu Lan) da Croce Reale

  • Coronel do Kentucky pela Honorável Ordem dos Coronéis do Kentucky, maior honraria concedida pelo Estado do Kentucky (EUA)

  • Generalis Sextae Legionis pela Cesarea Ordem dos Cavaleiros Romanos

  • Ordens de Cavalaria em que adentrou via tratados de amizade quando era Chanceler da Ordem Real do Leopardo Dourado (2021-2023), de Gana: Comendador da Ordem de São Thiago da Espada do Congo, Grão-Cruz da Ordem Real do Tigre e da Águia (Sawereso-Seinuah, Gana), Grão-Cruz da Ordem Real do Mérito (Gbi Hohoe Ahado, Gana), Grão-Cruz da Ordem Real de Kwakyem Ababio (Papagya, Gana), Grão-Cruz da Ordem de Santa Catarina do Monte Sinai (Família Lusignan), Grão-Cordão da Ordem Real da Coroa de Mangkualaman (Indonésia), Cavaleiro Honorário da Real Fundação Platoni de Ilustres Condecorados do Chile, Duque do Principado da Soberana Ordem Espiritual-Cavalheiresca da Santa Cruz (Rússia), Grão-Cruz  da Ordem Real e Militar de Jean-Baptiste do Haiti

  • Títulos nobiliários pró-memória: Barão da Rosa Branca pela Casa Ducal e Principesca de Bessières D’Istria, Barão de Valukas Lopes pela Casa Sereníssima de Avis (Ramo Cadete), Conde de Valukas Lopes pela Casa Ducal e Principesca de Mozer von Württenberg und Zahringer, Marquês de Zahringer pela Casa Ducal e Principesca de Hohenstaufen.

 

 

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